A popularidade dos suplementos de ashwagandha tem crescido nas redes sociais. Em várias publicações descreve-se este produto como um “antidepressivo natural e anti-stress”. 

Num dos posts partilhados online, alega-se que tomar suplementos de ashwagandha (uma planta também conhecida como o ginseng indiano) reduz o “stress” e o “cansaço físico” e diminui “a ansiedade” e “a depressão”. 

A autora da publicação aconselha ainda a deixar “de lado os químicos” e a substituí-los por este suplemento natural. Mas há evidência científica que comprove que os suplementos de ashwagandha tratam a ansiedade e a depressão?

Suplementos de ashwagandha funcionam como um antidepressivo?

Em declarações ao Viral, Filipa Caetano, psiquiatra e psicoterapeuta cognitivo-comportamental, explica que os suplementos de ashwagandha não podem ser vistos como um “antidepressivo natural”, porque não existe evidência científica de que tratem a depressão e a ansiedade.

Segundo a psiquiatra, existem estudos que sugerem que o extrato da planta ashwagandha tem, “a curto prazo, um efeito algo sedativo, calmante, relaxante e também induz um certo bem-estar” (ver aqui, aqui, aqui e aqui).

No entanto, além de existirem poucas investigações nesse sentido, também não há evidência que suporte a eficácia destes suplementos a médio e longo prazo. 

“Em relação aos antidepressivos, sabemos que eles têm de ser tomados durante pelo menos de seis a oito meses num episódio depressivo”, salienta. Já no que diz respeito a estes suplementos “não se consegue dizer o mesmo”. 

Por um lado, “não há estudos de larga escala”, pois os que existem são compostos por “amostras pequenas”. Por outro lado, continua a especialista, não se sabe “que doses devem ser usadas” e durante “quanto tempo deve ser feito o tratamento”. 

Além disso, desconhece-se “o perfil de segurança” destes produtos. Este tipo de suplementos “também tem efeitos secundários – sendo os mais comuns desconforto gastrointestinal, dor de estômago, diarreia – e pode levar a problemas hepáticos”, aponta.

Nesse sentido, segundo Filipa Caetano, não há nenhuma indicação clínica de boas práticas da psiquiatria que sugira a prescrição de suplementos de ashwagandha para o tratamento de depressão e ansiedade.

É ainda relevante ter em conta que recorrer a este tipo de suplementos por conta própria, sem qualquer ajuda profissional, pode agravar, com o tempo, o quadro clínico. 

Assim, “é sempre importante, quando surgem sintomas de ansiedade e depressão, procurar ajuda junto de um profissional especializado”, defende a psiquiatra. 

Caso seja necessária ajuda imediata, é aconselhado ligar para o serviço telefónico do Serviço Nacional de Saúde, o SNS 24 (808 24 24 24). Depois deve selecionar-se a opção 4, que corresponde à linha de aconselhamento psicológico. O serviço está disponível todos os dias, 24 horas por dia.

Qual o tratamento indicado e comprovado para a ansiedade e para a depressão?

Filipa Caetano esclarece que, até à data, nenhum suplemento, planta ou alimento tem, por si só, a capacidade de tratar a depressão e a ansiedade. 

Quanto aos tratamentos de primeira linha para tratar “uma depressão ligeira a moderada”, é comum recorrer-se a “psicoterapia cognitivo-comportamental – é a que está mais estudada – e/ou a antidepressivos”, informa a especialista.

Em termos de fármacos, recorre-se inicialmente aos “mais inócuos”, ou seja, aos “inibidores da recaptação da serotonina, como o prozac”, acrescenta.

No caso da ansiedade, “faz-se o mesmo”. A psiquiatra explica que, “apesar de os antidepressivos terem este nome, também são a primeira linha para as perturbações de ansiedade, como a ansiedade generalizada, por exemplo”. 

Para mais, num texto informativo da Organização Mundial da Saúde realça-se que o autocuidado “pode desempenhar um papel importante na gestão dos sintomas da depressão e na promoção do bem-estar geral”.

Aconselha-se o doente a: “tentar continuar a fazer atividades de que costumava gostar”; “manter-se ligado aos amigos e à família”; “praticar exercício físico com regularidade, mesmo que seja apenas uma pequena caminhada”; “manter hábitos alimentares e de sono regulares, tanto quanto possível”; e evitar ou reduzir “o consumo de álcool” e não consumir “drogas ilícitas”.

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Este artigo foi desenvolvido no âmbito do European Media and Information Fund, uma iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian e do European University Institute.

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